Nos últimos dias, houve discussão e revolta em razão dos preços dos carros brasileiros em comparação ao exterior, principalmente de modelos semelhantes vendidos no México. Claro que a crítica mais fácil aponta para a ganância e o lucro fácil em nossas terras. No entanto, se deve exercitar um pouco de aritmética e procurar entender que a ineficiência de fatores produtivos em uma economia inclui implícitos como burocracia, cipoal legislativo, impostos invisíveis e corrupção.
Atentando apenas ao explícito, o Brasil se tornou um país caro com a política cambial que valoriza o real frente ao dólar. Qualquer um que viaje ao exterior sabe que do tênis ao quepe o preço é metade daqui. O real forte tem o grande mérito de escancarar as ineficiências brasileiras, ao contrário do passado de moeda fraca. Ao mesmo tempo o câmbio promove fortes distorções comparativas.
Indo mais longe, com ajuda da aritmética e do preço de um sanduíche: um automóvel compacto nos EUA custa 3.000 Big Macs; aqui, 1.500 Big Macs. Pode eleger o culpado que achar melhor entre o sanduíche muito caro ou o carro muito barato. Em 2003, um Fiat Mille custava US$ 4.821 e hoje, US$ 14.465. Para sorte do comprador, pagará em reais 54% mais (abaixo da inflação acumulada em oito anos). Já o preço em dólar triplicou, o que explica a dificuldade de exportar.
Mais importante, não dá para discutir o lucro sem saber o custo. Estudo mais recente da consultoria PriceWaterhouseCoopers, encomendada pela Anfavea, tomou a China como o país de referência. No México, o custo total de produção é 20% maior e no Brasil nada menos de 60%. Dessa forma, o País precisa acordar, pois fica difícil competir frente a esse abismo.
Para comparar preços em dólares no mercado doméstico mexicano é preciso cuidado. As vendas de veículos novos estão atrofiadas (apenas 800.000 unidades/ano, 80% menos que o Brasil) pela concorrência predatória de carros seminovos e usados dos EUA, mercado gigantesco e de impostos baixíssimos. O preço do usado segura o do novo, à custa de empregos na indústria. O próprio México tem carga fiscal bastante inferior, bem como todos os países vizinhos do Brasil. Para agravar, nos últimos cinco anos o real se valorizou 29% e o peso mexicano caiu 16%, ambos frente ao dólar.
Interessante como ninguém teve a ideia de confrontar com a Europa. Vende-se o Fox paranaense na Suíça, em francos, pelo equivalente a R$ 28.000 (sem rentabilidade, segundo a VW) contra R$ 38.000 aqui, no mesmo nível de equipamentos. A diferença é a carga fiscal, porém a tese aloprada do Lucro Brasil só permite exemplos do México ou da Argentina.
Por falar no país hermano, os compradores argentinos ganharam um bem humorado apelido nos tempos em que o Brasil fazia maxidesvalorizações de sua moeda. Eram os “Da-me dos” (Levo dois, em tradução livre), pois entravam nas lojas e de tão barato levavam duas unidades de tudo. Que pena não podermos ir ao México comprar dois carros pelo preço de um e exportar para o Brasil sem ônus fiscal.
Em resumo, com impostos e ineficiências brasileiras, temos o carro mais caro do mundo; com carga tributária justa e sem o Custo Brasil, a história seria outra.
Fonte:
CarPlace